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Gracinda Nave
16.08.2018
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“Por vezes sinto-me estrangeira. Mas
isso faz parte da minha natureza, não posso fazer nada.”
Esta
frase, tirada de uma entrevista a Gracinda Nave já com alguns anos,
diz muito sobre o trabalho de viagem interior desta reconhecida
atriz. Não que as viagens por outras geografias não façam parte do
percurso – já lá vamos –, mas a eclética escolha de papéis e
projetos que compõem a sua carreira mostra que Camus poderia
inspirar-se em Gracinda Nave.
Nasceu em Guimarães, passou por
Moçambique e, regressada a Portugal, cresceu, estudou, viveu em
várias cidades. Até Coimbra. Foi nas margens do Mondego que trocou
de carreiras.
Depois de uns tempos na escola agrária virou-se para a
representação.
Uma primeira experiência de palco com as palavras
de Tchekov, numa encenação do Teatro Experimental da Universidade
de Coimbra, e ficou apaixonada pelo ofício.
Pouco depois, seguiu
para Lisboa e formou-se no Instituto de Ficção, Investigação e
Criação Teatral (IFICT).
Mais tarde, também cursou no Instituto
Franco-Português.
Foi o início de uma carreira no teatro
que, tal como qualquer cidade, não a prende a um género, a um
público, a um desafio.
Trabalhou com alguns dos maiores dramaturgos
nacionais e internacionais, encarnando palavras e personagens de
Pinter, Fosse, Brecht, Kane, Goethe, entre muitos, muitos outros.
Percorreu as maiores salas de espetáculos do país, em tournées
concorridas ou espaços mais intimistas, levando sempre personagens
marcantes para a memória da assistência.
Mas nem só de teatro vive esta mulher
de sítios mutáveis, provisórios, passageiros e inesquecíveis.
Também o cinema é uma casa constante, já com dezenas de filmes no
currículo. Ajudou a concretizar a visão de nomes tão reputados da
cinematografia nacional como João César Monteiro, Manuel Mozos,
Teresa Garcia, Miguel Gomes e Paulo Rocha. ‘A Filha’ (2003),
‘Vanitas’ (2005), ‘Tebas’ (2007) e o segundo filme da
premiada trilogia ‘As Mil e Uma Noites’, ‘O Desolado’ (2015),
são algumas das películas em destaque.
A experiência em filmagens também foi
conquistada em projetos televisivos, onde continua a mergulhar entre
as várias aventuras profissionais que vai explorando.
Arrancou com
‘Amanhecer’ (TVI, 2002-03) uma linha de sucessos de audiência em
vários canais. O último papel foi a Adelaide de ‘O Sábio’
(RTP, 2017-18) que a levou a mostrar uma mulher frágil tornada
forte.
Um outro projeto televisivo, num registo diferente de novelas
ou séries, foi o telefilme ‘Rádio Relâmpago’ (RTP, 2003).
E se as casas a fascinam, ‘porque é
curiosa e gosta de observar as pessoas’, Gracinda Nave faz também
do estúdio de gravação um lar para os seus talentos.
Adaptando o
registo à multiplicidade de papéis ou locuções necessárias para
cada projeto, não é de admirar que já tenha o seu nome associado a
campanhas de grandes marcas.
Assim, ficamos nós curiosos em ouvi-la
nos anúncios de Staples, Santander, Durex, Philadelphia, Ausonia, Nobre, etc.
Com este percurso eclético e sempre
desafiante, Gracinda Nave está longe de ser uma estrangeira.
Tem uma
carreira cheia, plena de personagens, de palcos, de momentos. Não
sabemos se as estações de comboio a continuam a fascinar, ‘esses
pontos de chegada e de partida’.
Ou se ainda consegue descobrir
poesia nos carrinhos de choque, como revelou na entrevista de que já
falámos.
Mas com décadas de viagens pela arte de representação,
somos nós que encontramos poesia em cada registo vocal, olhar ou
movimento cénico de Gracinda Nave.