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Luís Franco Bastos
05.03.2015
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Luís Franco Bastos, o sniper português
Vamos tentar começar este texto por 'Outra coisa', que não o óbvio. Esqueçamos para já Cristiano Ronaldo, Alberto João Jardim, Jorge Jesus, Bruno Nogueira ou Bruno de Carvalho e todas as possíveis acusações de 'Roubo de identidade'. Esqueçamos para já o pack de mil em um. E a destreza com que manuseia o seu aparelho vocal para dar voz (e vida) a quem quer que seja...Bem, eu disse que íamos tentar, não que íamos conseguir.
É que, por incrível que pareça, a magia de Luís Franco Bastos não se trata (só) de voz. Apesar de as imitações que faz deixarem todos de queixo caído e fazerem soar as mais sonoras gargalhadas, engane-se quem pensa que é tudo uma questão de ter um dom e de soltar o “macaco de imitação” que há em si. Longe disso. Por detrás da mais perfeita imitação do CR7 ou da ainda não tão perfeita imitação de Pedro Passos Coelho está um trabalho criativo longo e detalhado.
A receita é mais ou menos como compor uma canção: primeiro combina-se os vários instrumentos, a voz, a guitarra, a bateria, o baixo. Depois faz-se a mistura e, no fim, a pós-produção. Que é como quem diz, primeiro apanha-se o tom, depois o timbre, o sotaque, os jeitos, a pronúncia. Depois a personalidade, as ideias e todas as histórias que se consiga recolher sobre aquela personalidade. Puxa-se daqui, exagera-se ali. Espera, menos. Tira-se daqui e acentua-se ali. Às vezes são precisos anos de afinação até ficar inconfundível ao ouvido. Mas no fim é certo - temos a personagem tal e qual, versão Franco Bastos. E risos, muitos risos.
Pode dizer-se que foi Cristiano Ronaldo que o lançou. Tinha 19 anos quando decidiu concorrer ao concurso da Antena 3 ‘Cómicos de Garagem’. Tinha feito um workshop de escrita criativa e estava determinado a mostrar o que valia. Estudou bem a situação, escreveu, criou, gravou e, no fim, press send. Era uma imitação do Ronaldo, com todos os trejeitos e imperceptibilidades linguísticas que se possa imaginar. Rui Unas ouviu e ficou boquiaberto. Acabaria por ganhar o concurso, mas ganhar, neste caso, foi só a cereja no topo do bolo, porque o que ganhou mesmo foi um salto de gigante para uma carreira.
Da rádio voou para a internet, que será sempre o seu fiel palco, na saúde e na doença (na alegria e na tristeza). Passou para o teatro, onde teve a sua grande estreia com o one man show ‘Papel Químico’, e onde passa hoje grande parte da sua vida, quer a integrar espectáculos de stand up comedy, quer em espectáculos em nome próprio. Com a TV também já teve um ou outro caso, mas a relação “é complicada”. Estreou-se nos Contemporâneos ao lado de grandes humoristas, mas hoje não tem pudor em afirmar que fazer televisão é muito bonito, dá muita visibilidade, mas...tem de ser com as pessoas certas.
Ah, e claro, é a voz constante no programa Outra Coisa na Antena 3 e dá a voz aos mais variados spots publicitários, Trivago, Bollicao, Nintendo,Worten, Bongo, Galp, Linic, MacDonalds, Wall street Institute, Marshoping, Millenium, Jumbo, Opel, Hyundai, The phone house,entre outros
Mas antes, convenhamos, a história começa com o Leonardo, o Raphael, o Donatello e o Michelangelo, as tartarugas ninja que serviram de cobaia para as experiências do ainda pequeno Luisinho. Quatro vozes, quatro personalidades e quatro feitios diferentes, já davam pano para mangas. Seguiu-se o Diácono Remédios e a dupla Melga e Mike - a mestria de Herman José a criar discípulos desde 1970. Foi o bastante para perceber, ainda adolescente, que imitar vozes causava impacto nas pessoas, fazia rir. Tinha encontrado a arma perfeita.
Dá trabalho manuseá-la? Dá, muito. Mas Luís Franco Bastos sabe que nada se consegue sem ele. Por isso anda sempre de bloco de notas à mão, para apontar ideias, escrever, criar, não deixar fugir o momento. Por isso demorou tanto tempo a conseguir o seu José Sócrates quase perfeito, e outro tanto a aperfeiçoar o seu Passos Coelho até se dar por satisfeito. É que tem pelo menos uma regra de ouro: ele próprio tem de achar graça. Muito ao estilo Claudia Schiffer, passo a imitação, ‘Se eu não gostar de mim, quem gostará?’.
Em todo o caso tomem nota: hoje com 26 anos, Luís Franco Bastos não é um imitador de vozes. É um humorista completo, digno dos maiores palcos. Como diria o amigo Unas quando o viu dar os primeiros passos e anteviu logo uma enorme estrada pela frente - Luís Franco Bastos tem uma arma poderosíssima, a voz. Mas tem de saber usá-la, escolhendo as munições e os alvos certos. Não basta disparar para o ar indiscriminadamente. Porque uma pessoa que imita vozes é apenas um espalha-brasas, enquanto um humorista é um verdadeiro sniper.
Bang!. Tiro certeiro.