Making Of VOZ
Pedro Saavedra CETELEM
Quando eu oiço as marcas, e as marcas não falam comigo, mas sim as pessoas que representam as marcas e que me transmitem vontades, ajuda-me sempre mais, se me explicarem no campo narrativo o que a marca pretende, do que me darem um Excel com coisas escritas, o que também já me aconteceu. A minha função é interpretar. Admito que é mais fácil gravar com imagem, porque a imagem já mostra um raciocínio e uma narrativa. E por acaso com a Cetelem, começámos assim o que foi mais fácil. Ver as imagens, já existe uma narrativa, já existem pessoas, já existe uma pequena estória.
E subentendemos, no caso da Cetelem por exemplo, que é uma marca que quer amparar os projectos pessoais das pessoas, e por isso o que eu devo fazer é uma voz que ampare. Tudo isto à posterori é facílimo de falar. Não pensei nisto quando cheguei ao microfone “tenho de fazer uma voz que ampare” , mas senti a imagem, o texto. No momento tento interpretar a vontade dos clientes, e que geralmente são pessoas que já “sofreram” muito para chegar àquela ideia. Por isso é que digo que a sinto como uma personagem.
Eu tenho feito mais voz de companhia que voz mais interpretada. Acho que tem a ver com o meu timbre, não sei. E às vezes uns bonecos, é giro. Tipo o homem que chega a casa e pede para mudar a bilha, qualquer coisa assim parva, mas que tem comicidade. E o que é divertido nas locuções, e acho que quase todos os actores que fazem locuções dirão isso, é que tens de encarnar uma personagem.
Quando é uma assinatura, tens de encarnar o estilo daquela marca, o estilo daquela palavra. Com o que me preocupo sempre é associar-me àquilo que estou a fazer. E o difícil, é só com a voz, passar todas essas emoções, sensações.
Sempre imaginei a locução uma coisa estática. E fisicamente, isso aprendi com os primeiros locutores que vi, tens de te mexer. Quando queres marcar o texto tens de usar os braços, tens de jogar contigo. Estar com as pernas abertas, não é igual a estar com as pernas fechadas, dar um passo para começar uma coisa, não é igual a não dar, a distância, o estar mais próximo ou mais longe do micro faz toda a diferença. Ou seja, vais aprendendo qual é a incorporação que deves ter, portanto não deixa de ser uma interpretação de um actor, mas só ouves a voz, não me vês a mim. Se me vissem provavelmente não poderia fazer tantas parvoíces quando estou a gravar.
Há uma coisa que eu nunca vou conseguir fazer, que é ter os ouvidos dos outros. E a minha voz quando eu a falo, oiço-a de uma forma mas tu ouves diferente e o mesmo ao contrário. Portanto eu posso achar que estou a fazer uma coisa muito boa, mas isso não tem importância nenhuma se os outros ouvidos todos não concordarem comigo. E o oposto também. Já me aconteceu fazer coisas que eu não estava muito satisfeito e os outros “É pá não Pedro, mas isto está espectacular”. Porque isto é para ser ouvido por outras pessoas e não por mim. Não ficaria satisfeito em fazer uma coisa que odiasse ouvir, mas nunca me aconteceu.
Trabalhei sempre directamente com a Marta e com a Céu, depois mais tarde com a Vera, a Sarah, e sempre senti do lado delas, para além de um grande conhecimento sobre os meus limites e o meu potencial, também uma grande vontade de me darem oportunidades de brincar. Foi sempre uma relação de grande compreensão. Acho que elas souberam sempre escolher as coisas certas para eu fazer, acho que eu não o faria tão bem sozinho, é mesmo verdade, e aliás quando tenho de dizer alguma coisa à Marta digo. Mas sempre lhes disse que havia coisas que me apetecia experimentar fora das minhas áreas de conforto, como é o caso das dobragens, documentários sobre a natureza que adoraria fazer, e uma vez até brinquei, sobre dobrar filmes pornográficos.
Há coisas que lhes fui sempre lançando, e uma tem a ver com ser a voz de um canal muito específico, porque eu sou fã desse canal, e elas fizeram uma coisa espectacular que foi arranjarem-me um casting para a voz desse canal. Não fiquei eu, mas não faz mal, tentámos. Tem havido uma boa cumplicidade.
E acho que eu também tenho ido ao encontro dos desafios que elas me têm lançado e portanto acho que é uma parceria que tem funcionado muito bem e é para continuar. Nunca tive nada contra agenciamentos, acho que este é um mundo onde tens de trabalhar em equipa, não é verdade que tu numa ilha deserta te safas, não é verdade. Eu pelo menos gosto de partilhar as vitórias, gosto de partilhar as derrotas, e com a ZOV temos estado muito juntos nisso.